Há algum tempo
tenho me sentido angustiada com relação aos diagnósticos das deficiências, pois
percebo que tanto os pais das crianças que apresentam dificuldades quanto os
professores e outros profissionais necessitam dar nomes para algo que não está
se apresentando bem.
Ok.
Em alguns casos saber ao certo o que um sujeito tem é importante, como por
exemplo nos casos em que se deve ter cuidados bem específicos com a saúde do
sujeito, como acontece com as crianças com síndrome de down que nascem com
problemas cardíacos. Aqui existe uma questão de saúde física que deve sim ser
levada em consideração.
Mas
na grande maioria dos casos direcionar toda a energia para descobrir qual é o
nome da deficiência pode não indicar necessariamente um caminho para sua
evolução e sim o contrário, pois de posse do nome da deficiência alguns
aprendizados já nem mais são esperados: “ah ele não aprende porque tem
deficiência intelectual”.
Então
o nome da deficiência passa a ser a justificativa do não aprender e alguns
investimentos no desenvolvimento da criança são deixados de lado: “não adianta
ensinar, porque não vai aprender, é assim mesmo”. Essas são apenas algumas das falas que já
escutei de colegas de profissão e de pais.
Estava me lembrando nesse momento de uma
criança com síndrome de down que atendi com 1 ano e 2 meses de idade e que até
aquele momento a família não sabia da síndrome (por algum motivo o médico não
informou os pais dessa possibilidade e não os encaminhou para realizarem exames
que confirmassem de fato a existência da mesma).
Até
o primeiro ano de vida esse bebê tinha sido tratado como um bebê normal: ganhou
todos os dengos possíveis de sua família que era bem numerosa e muito afável. A
estimulação tão necessária a todas as crianças pequenas, para esse bebê se deu
forma natural nos contatos com seus familiares. Essa criança chegou para avaliação
(para saber se estava tudo bem, já que tinham descoberto a síndrome) e seu
desenvolvimento apresentava-se praticamente como o esperado para sua idade.
Ficam
alguns questionamentos: quanto das características de um sujeito normal são
podadas a partir do momento em que se descobre que por trás tem uma
deficiência? quanto das possibilidades
de um sujeito vir a conquistar aprendizados significativos em seu meio social
são tiradas de si no momento em que é isolado em locais onde convive apenas com
quem tem as mesmas dificuldades?
Todos
nós, seres humanos, aprendemos a partir das interações sociais que
estabelecemos com nossos pares. Se nossos contatos forem positivos,
estimulantes, desafiadores, aprenderemos mais. Mas, se ao invés disso nos
contentarmos com o mais fácil, o mais tranquilo, a mesma rotina, teremos
grandes chances de ficarmos sempre no mesmo lugar, com as mesmas dificuldades,
com as mesmas resistências, com os mesmos problemas.
Não
há nada de errado em querer saber o que um filho tem, por que não está
aprendendo, por que está tão diferente dos outros, mas precisamos ter mais
cuidado com o que fazemos quando temos a confirmação de um diagnóstico para que
a vida de um sujeito não se encerre por ali.
Laura Cristina Nardi Callegari
Psicopedagoga
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