Hoje contarei
uma história verídica, a qual foi acompanhada por Anna Maria Lunardi Padilha,
uma das maiores pesquisadoras da educação especial no Brasil.
Bianca é uma
moça considerada deficiente mental grave, com avaliação neurológica de agenesia
parcial do corpo caloso e diminuição da massa do hemisfério esquerdo, ou seja,
falta-lhe uma parte do cérebro.
Com 17 anos de
idade andava com dificuldades, seus movimentos eram descoordenados e
desarmônicos, seu braço direito era semi-paralisado, seus olhos pareciam olhar
para o nada. Não sorria, porque parecia sorrir o tempo todo (e sorriso é só
para certas ocasiões). Bianca falava muito pouco e o que falava era através de
palavras soltas, sem muita ligação em seu contexto. Já havia passado por
diversos atendimentos, pelos mais variados profissionais e por todas as escolas
que sua família julgou ser necessário. Bianca não era alfabetizada.
Não havia
muita expectativa em relação ao seu desenvolvimento. A escola, a clínica e a
família de Bianca a tratavam como uma criança e também não se empenhavam muito
para ajudá-la a aprender. Bianca ficava à parte das aprendizagens que a grande
maioria das pessoas tem acesso, afinal era deficiente e sendo deficiente não
teria condições de aprender.
Porém, Bianca
teve a oportunidade de mudar sua história, no momento em que as pessoas que
estavam ao seu redor começaram a olhá-la de um jeito diferente. Bianca começa a
ser enxergada em suas possibilidades de desenvolvimento e o defeito, a falha, a
doença, a deficiência, deixa de ser a parte mais importante no discurso
daqueles que fazem parte de sua vida. Bianca é então reconhecida enquanto
sujeito capaz e é investida em suas possibilidades. Deixa de ser tratada como
criança e passa a ocupar o lugar de uma moça. Aprende a falar, a argumentar, a
desenhar, a escrever e a se movimentar com mais desenvoltura. Com investimento,
Bianca já não é mais a mesma jovem deficiente mental. Nem sua deficiência é a
mesma...
Laura Cristina Nardi Callegari
lauracnardi@yahoo.com.br
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